Tudo regido pelo carisma e a voz rouca de Eddie Vedder, que surgiu no maior dos palcos montado no autódromo de Interlagos como um legítimo heroico rock
THALES DE MENEZES - Pearl Jam mostrou no Lollapalooza como uma banda consegue ainda ser relevante no cenário roqueiro atual, com um pé na velha escola, de guitarras raivosa e letras contundentes, e outro pé na fúria adolescente, como se fosse um fruto da urgência deste milênio.
Tudo regido pelo carisma e a voz rouca de Eddie Vedder, que surgiu no maior dos palcos montado no autódromo de Interlagos como um legítimo heroico rock. A plateia urrava a cada close do cantor no telão.
A banda abriu com "Wash" e logo começou a desfilar músicas antigas. Depois de pedir às pessoas na plateia, em português, que acenassem porque suas famílias estavam vendo todos pela TV, elogiou campanha por desarmamento nos Estados Unidos e dedicou a música seguinte à causa: "Can't Deny Me".
Vedder puxou também um "Parabéns a Você" para Perry Farrell, criador do Lollapalooza. Adiantado, porque o aniversário é só dia 29. Em seguida, o primeiro pandemônio da noite, "Even Flow".
O Pearl Jam atinge 28 anos de estrada mantendo intacta uma aura de integridade. É a banda que não faz concessões comerciais, não apela a pirotecnias nos shows, não concentra suas turnês no punhado de "greatest hits" que ganharia facilmente qualquer plateia. E foi isso que o público paulistano teve no Lollapalooza, que registrou público de 100 mil pessoas neste sábado (24).
O que nunca para de surpreender é a capacidade da banda mudar de forma radical o repertório do show de uma noite para outra. O guitarrista Mike McCready disse em entrevista à Folha que o quinteto mantém mais de 200 músicas ensaiadas, e pode tocar qualquer uma delas quando bem entender.
No mecanismo habitual do Pearl Jam, Vedder pega uma cópia dessa lista de músicas algumas antes de cada show e ali, levando em conta as emoções do dia (palavras de McCready), escolhe umas 30 para a apresentação.
Nesta passagem pelo Brasil, que teve também um show no Maracanã na quarta (21), Vedder demonstrou uma incomum vontade de agradar ao público.
O repertório das apresentações privilegiou bastante os primeiros discos da banda, que alcançaram níveis de venda e popularidade bem maiores do que os posteriores.
O show do Lolla, como o do Rio, teve mais de dois terços compostos de músicas dos cinco álbuns do Pearl Jam lançados nos anos 1990. O terço restante contemplou os outros cinco discos de estúdio lançados entre 2000 e 2013 e alguns covers inspirados. Entre as canções da noite, a banda tocou sete de "Ten", o multiplatinado álbum de estreia, de 1991.
O som segue poderoso. Há uma química entre as guitarras de McCrvady e Stone Gossard, o baixo de Jeff Ament e a bateria de Matt Cameron que é transmitida ao público nos sorrisos cúmplices do quarteto.
Sintonia de banda grande veterana. É uma das que menos fica parada na história do rock. Mais sisudo, intenso, às vezes Eddie Vedder dá sinais de participar desse jogo de equipe divertido dos companheiros.
Se Vedder não tem mais o mesmo vigor da juventude, reduzindo os saltos e as corridas pelo palco, compensa com sobras exibindo uma intensidade tremenda ao soltar a voz grave mais marcante do rock dos últimos 30 anos. Sua poesia às vezes simples mas sempre densa, emotiva, ganha força em sua interpretação.
No final, entre antigas como "Alive" e "Yellow Ledbetter", o Pearl Jam fez covers que já estão praticamente incorporados à seu repertório, como "Baba O'Riley", do The Who, e a versão ótima da já magnífica "Comfortably Numb", do Pink Floyd. Reunião de mitos roqueiros fechando o segundo dia do Lollapalooza 2018. Com informações da Folhapress.