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'Não uso a minha notoriedade para fazer política', diz Tony Ramos


Ator fez a afirmação quando questionado se o realismo fantástico de Aguinaldo Silva chegou na hora certa para apaziguar o clima de instabilidade política vivido no Brasil

No elenco de "O Sétimo Guardião" (Globo), Tony Ramos diz que não considera razoável cobrar que uma telenovela resolva os problemas do país.

O ator fez a afirmação quando questionado se o realismo fantástico de Aguinaldo Silva chegou na hora certa para apaziguar o clima de instabilidade política vivido no Brasil nos últimos meses.

"Nem Aguinaldo nem nós [atores] pensamos em fazer novela com essa expectativa, até porque a novela já está imaginada há um ano e meio. Acho que ela coincide com esse momento e traz amor, paixão e suspense. Esse é o triângulo mágico de uma telenovela. Se não tiver isso, não existe folhetim."

O ator de 70 anos comentou que não que há nenhum "racha" na classe artística por conta de divergências políticas. Ele frisou que, apesar de não ter feito campanha política para nenhum candidato, não tem nada contra os artistas que o fizeram. Para o ator, os boatos de que seus colegas de profissão estão se desentendendo por causa de política é uma história "mixuruca".

"Tem toda a razão e todo o direito quem quis apoiar A e quem apoiou B. Nunca subi em palanque nem fui partidário. É muito simples dizer que estou em cima do muro. No entanto, sou um ser pensante político. Apenas não uso a minha notoriedade para fazer política. Isso eu faço nos bastidores, nas minhas conversas com meus netos, com meus filhos. Não gosto de induzir ninguém a partir da minha notoriedade."

Para Ramos, a democracia é a melhor invenção do mundo e o melhor democrata é aquele que aceita o resultado das urnas. "Quero que esse país seja o melhor possível. Não tenho casa fora do país, moro aqui, pago imposto aqui, trabalho aqui. Quero que o país dê certo para os meus netos, para o trabalhador brasileiro, quero ver a criança na escola das 7h às 16h. Esse é meu sonho. Quem ganhou, ganhou por vontade popular. Respeitamos. Isso é democracia."

Com 55 anos de carreira e mais de 140 papeis na TV, chegou a hora de Tony Ramos finalmente interpretar um personagem de Aguinaldo Silva. A parceria era um desejo do ator e do autor há muitos anos, mas a agenda de Tony sempre foi um empecilho.

"Conheço Aguinaldo como jornalista desde os anos 1970. A coragem dele, a ousadia, o destemor. Ele é um homem intelectual, muito bem informado e culto. E quando ele começou a fazer novelas, mergulhar nesse universo, sempre vi que ele tinha o dom de observar gente brasileira sob várias óticas. Os sentimentos todos à brasileira. Ele sempre fez isso muito bem. Nunca tinha dado certo de nos encontrarmos porque tenho uma agenda complicada. Sou réu confesso [risos]."

Em "O Sétimo Guardião", Ramos interpreta Olavo, um empresário milionário, pai de Laura (Yanna Lavigne). Movido pela ambição por dinheiro, seu único ponto fraco é a filha. Ele é capaz de qualquer coisa para vê-la feliz. Segundo o veterano, seu personagem é um homem pragmático e materialista.

"Ele diz o tempo todo que dinheiro é melhor que colírio para os olhos. Mas, ao mesmo tempo, o espectador fica muito dividido. Meu personagem é como um quiabo: muito escorregadio. O público vê que sou um excelente pai, viúvo, que criou aquela filha com muita paixão, e ela é abandonada [pelo noivo Gabriel, interpretado por Bruno Gagliasso] à beira do altar.

Aí ele jura vingança à mãe do noivo [Valentina Marsalla, papel de Lilia Cabral], porque ela precisa do dinheiro do Olavo. Então o espectador vai ficar muito dividido.

Mesmo com uma longa carreira, Tony Ramos afirma que continua fica ansioso com cada personagem. "O ator que não estiver com a boca seca e ansioso, é melhor mudar de profissão. A gente sempre vai ter isso. Sempre é um novo espetáculo. Há uma incógnita. Você nunca sabe o que o espectador vai achar, como ele vai reagir."

Os anos de estrada na dramaturgia, no entanto, serviram de experiência para que o ator tenha palpites mais certeiros. "Sei ler muito bem o texto, o roteiro. Quando Aguinaldo me mandou os primeiros capítulos da novela, liguei para o Papinha [diretor] e disse que tínhamos um novelão nas mãos. Ele concordou."

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